ENTENDA: a polêmica da Queermuseu em 12 tópicos

By Bernardo Busch - outubro 04, 2017

Após ter prometido, nesse último domingo (01), o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), vetou a chegada da Queermuseu - cartografias da diferença na arte brasileira à cidade. A exposição, famosa após ter sido censurada em Porto Alegre por pressão de setores conservadores (sobretudo o MBL), aconteceria no Museu de Arte do Rio (MAR), mas teve as suas negociações encerradas. "Saiu no jornal que vai ser no MAR. Só se for no fundo do mar", ironizou Crivella. Em entrevista ao jornal O Globo, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus acrescentou que a população do Rio não tem o menor interesse em exposições que promovam zoofilia e pedofilia.

Afinal, do que trata a exposição? Por que tanta polêmica? Quais são as obras associadas à pedofilia e à zoofilia? O que disseram os autores? Entenda:

"Cruzando Jesus com o Deus Shiva", de Fernando Barril, 1996.

1) A Queermuseu, como ficou popularmente conhecida, é uma exposição brasileira, tendo sido inaugurada no dia 15 de agosto, no Santander Culutral (Porto Alegre). 

2) A exposição seguiria até o dia 08 de outubro, mas foi cancelada em resposta à onda de ataques de grupos conservadores, sobretudo católicos, junto ao MBL. Esses grupos alegaram que algumas das obras desrespeitavam símbolos católicos, além de supostamente serem apologéticas à pedofilia e à zoofilia.

3) A exposição contava com 270 obras que abordavam a temática de "gênero e as diferenças", de diferentes artistas –inclusive artistas de peso, como Portinari, Volpi e Ligia Clark.

4) A artista contemporânea Adriana Varejão, com obras exposta em New York (Guggenheim), Londres (Tate Modern) e em Barcelona (Fundação La Caixa), também integrava a Queermuseu.

5) A exposição passou pela curadoria de Gaudêncio Fidelis –em 2015, foi o curador-chefe da 10º Bienal do Mercosul. "Não foi uma censura contra mim, mas contra as artes", disse o curador ao BuzzFeed.

6) O Santander Cultural, ao fechar a exposição no dia 10 de setembro, disse em nota que algumas das suas obras desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não estaria de acordo com a visão de mundo do espaço.

7) Em entrevista à Cult, a ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e ex-diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes relacionou a reação conservadora à perseguição nazista às vanguardas dos anos 1930, na qual artistas como Picasso eram acusados de produzir uma "arte degenerada". 

8) A obra "Cena de Interior II", de Adriana Varejão, foi acusada de "gastar 800 mil reais de dinheiro público (Lei Rouanet) para crianças verem zoofilia e pedofilia". Em entrevista ao jornal El País, Varejão disse que a obra trata de "uma compilação de práticas sexuais existentes, algumas históricas (como as Chungas, imagens eróticas da cultura popular japonesa)". A artista enfatiza o caráter da obra de jogar a luz sobre assuntos não discutidos na sociedade.

"Cena de Interior II", de Adriana Varejão, 1994.
9) Bia Leite, autora da série "Criança Viada",  também acusada de produzir obras  com o intuito de promover o "amoralismo" dentre as crianças, já teve a sua coleção exposta no "XIII Seminário LGBT", na Câmara dos Deputados (Brasília), em 2016.

10) Segundo Leite, nas fotos as crianças aparecem sorrindo, empedradas pelo texto que, pela primeira vez, enaltece o que chamou de "crianças desviantes", chamado-as de deusas ou super-heroínas. "Nós devemos cuidar das crianças, não reprimir a identidade delas nem seu modo de ser no mundo, isso e muito grave", disse em entrevista ao portal UOL.

"Travesti de Lambada e Deusa das Águas", de Bia Leite, 2013.
"Adriano Bafônica e Luiz França She-há", de Bia Leite, 2013.

11) Na obra "Cruzando Jesus com o Deus Shiva",  Fernando Barril (autor) também sofreu retaliações.  Em entrevista ao jornal Zero Hora disse (íntegra): "Era uma semana santa, e eu estava lendo sobre as santas indianas, então resolvi fazer uma cruza entre Jesus Cristo e a deusa Shiva. Deu aquele montaréu de braços carregando só as porcarias que o Ocidente e a Igreja nos oferecem. Certa vez, Matisse fez uma exposição em Paris e, na mostra, tinha uma pintura de uma mulher completamente verde. Uma dama da sociedade parisiense disse 'desculpe, senhor Matisse, mas nunca vi uma mulher verde', ao que Matisse respondeu que aquilo não era uma mulher verde, mas uma pintura. Aquilo não é Jesus, é uma pintura. É a minha cabeça, ponto. Me sinto bem à vontade para pintar o que quiser."         (foto acima - primeira)

12) Mesmo com toda a pressão, não foram encontradas nenhuma irregularidade na exposição que de fato pudesse associar as sua sobras à pedofilia e à zoofilia, em Porto Alegre. Seu fechamento diz respeito somente à uma decisão institucional do Santander Cultural de atender às pressões externas dos grupos conservadores –bastante criticada por artistas e juristas por supostamente  estar apoiando a coerção à liberdade de expressão.

MAIS OBRAS:
"São Sebastião", Volpi.
Sem título, Angelina Agostini, 1910.


"Libélulis Corpus", Rodolpho Parigi, 2014.




"O Buraco", Telmo Lanes, 2004.



"Last Resort", Felipe Scandelari, 2016.











"Ataque Automático", Milton Kurtz, 1985.

Sem título, Nino Cais, 2009.




"Is a Feeling", Cibelle Cavalli Bastos, 2013.





Fontes: Revista Galileu, Zero Hora, Portal UOL, O Globo, Cult, BuzzFeed, MAR, MBL e Santander Cultural.
























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