Coluna: Qual é o segredo do sucesso de Pabllo Vittar?

By Bernardo Busch - setembro 22, 2017

Ninguém duvida que a drag queen brasileira Pabllo Vittar, dona dos hits "Todo Dia" e "K.O", foi um dos grandes destaques da edição do Rock In Rio 2017, ainda em andamento. No último dia 15, abertura do festival, a cantora roubou a cena,  se apresentando para um público gigantesco –típico do Palco Mundo– em um palco-acessório de um patrocinador do evento. Seu pocket show levou o público à loucura –até mesmo mais do que o headliner da noite, ousaria dizer–, surpreendendo a mídia e o próprio festival pelo sucesso estrondoso. Além disso, no dia seguinte (16), Pabllo subiu ao palco principal do evento de surpresa –ou nem tanto–, para participar do show da ex-Black Eyed Peas, Fergie. As duas quebraram a web ao performarem o hit nacional "Sua Cara", assinado pelo Major Lazer em parceria com a Anitta e a própria Pabllo. Afinal, qual é o segredo de Pabllo Vittar?

Major Lazer, Pabllo e Anitta no clipe de "Sua Cara", no deserto
Nos últimos anos, o cenário musical brasileiro se viu repleto de artistas que se identificam com a causa LGBT ou até mesmo se declaram pertencentes ao grupo. Através da música, esses artistas contam as suas experiências pessoais e expressam sentimentos universais, assim poderíamos dizer, da comunidade gay. Liniker, Johnny Hooker, Banda Uó –o segundo, inclusive,  esteve no Rock In Rio no dia 17. Entretanto, a arte produzida por esses cantores "alternativos" ainda se vê restrita a um público "x", ou melhor, gay, diferentemente do que acontece com Pabllo. A drag do momento vem conquistando espaços nunca explorados pelxs colegas de movimento, participando de programas de grande audiência na principal emissora do país, viralizando nas redes sociais – "K.O" possui cerca de 173 milhões de visualizações no YouTube–, ganhando notoriedade internacional e se apresentando para 100 mil pessoas num dos mais importantes festivais de música do mundo.  Porém, a "fórmula mágica" para o seu sucesso não é nenhuma novidade.

Seguindo o caminho feito por grandes divas internacionais, como Britney Spears, Pabllo Vittar mergulhou na indústria musical nas mãos de grande e experientes produtores. A performer, nascida no interior do Maranhão, começou a ganhar visibilidade após a gravação da versão brasileira do hit "Lean On" (Major Lazer), chamada "Open Bar", atingindo 1 milhão de visualizações em 4 meses. Hoje esse número ultrapassa os 39 milhões. Daí, assinou contrato com uma gravadora importante e passou a lançar hit atrás de hit, com o seu álbum de estréia "Vai Passar Mal"–a música "Todo Dia" foi a sensação do Carnaval 2017. Seria um tanto quanto idiota, porém, reduzir seu sucesso somente ao fato dela estar acompanhada por produtores de peso –e um tanto quanto machista. Mas é fato que a experiência de pessoas que conhecem o ramo e que já projetaram fabricaram grandes popstars conta muito –fora todo o networking.




 Outro ingrediente essencial para a receita de Vittar são as suas letras. Repara, as suas faixas poderiam ser cantadas por qualquer cantora pop "convencional", pois abordam temas genéricos como o amor e não guardam relação apenas com um único grupo específico, no caso, me refiro aos LGBTS. O nicho receptor do trabalho de Pabllo não precisa ser necessariamente gay –boa parte não é. A sua luta ideológica está muito mais presente na sua identidade visual do que na letra das suas músicas. Óbvio, existem exceções, mas seus grandes hits e parcerias apresentam ingredientes em comum: são pops, com refrão chiclete, afinados com o cenário musical contemporâneo e muito, muito bem produzidos.

Não é só de talento que se vive o artista, ainda mais no cenário pop mainstream. É disso que estou falando. Pabllo Vittar, embora seja talentosa, está onde está por ser um produto tragável para o grande público. Diferentemente de Liniker –"mulher trans e negra", como ela se define–, por exemplo, cujas letras carregam uma ideologia e uma posição política clara, Pabllo é mais solúvel. O grande público, ainda que bastante resistente e preconceituoso, está preparado para as suas músicas, mas não para o que ela representa em si, não para a luta de tantos e tantas por trás dela.  Mas que fique uma coisa clara: Pabllo Vittar é fundamental. Fundamental para trazer à tona a questão LGBT, sobretudo das drags e trans –mesmo não sendo uma mulher trans–, fundamental para provar que é possível sim conquistar espaços importantíssimos no cenário nacional sendo uma drag queen, fundamental para a representatividade da comunidade gay, fundamental para que outrxs colegas LGBTS sigam o mesmo caminho, fundamental para expor as contradições de um país tão diverso e, ao mesmo tempo, tão intolerante, fundamental para o país no qual mais transgêneros morrem diariamente... A lista é longa!

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